História de Abido Saadi
Filho de imigrantes libaneses, Sr.
Antônio Saadi e Sra. Kaffa Mattar Saadi, que no início do século XX vieram para
o Brasil em um porão de navio, fugindo da guerra do Oriente e desembarcando no
Rio Grande do Sul, estado onde nasceu Abido Saadi e mais seis irmãos: Elias, Francisco,
Jorge, Saadi Antônio Saadi, Mali e Marina.
Os pais Antônio e Kaffa se
estabeleceram na cidade gaúcha de Santa Maria da Boca do Monte, onde os filhos
foram nascendo a medida em que os pais trabalhavam, para prover o sustento da
família, com muito sacrifício e muita garra.
Abido nasceu na primavera florida
dos campos gaúchos, no dia 14 de setembro de 1915. Desde menino demonstrou muita
vivacidade e inteligência, ajudando os pais, vendendo frutas nas feiras e
estações da cidade.
Depois de vários anos, já bem
estabelecidos, a família mudou-se do Rio Grande do Sul para o Espírito Santo,
onde o filho mais velho Elias Saadi havia vindo antes, e se tornado um próspero
comerciante de café, muito bem-sucedido.
A família de Antônio Saadi chegou
ao Espírito Santo, e estabeleceu-se na cidade de João Neiva, onde abriu uma
grande loja de secos e molhados, com mercadorias sortidas para atender aos
moradores do local. Nesta cidadezinha, Abido já rapaz ajudava o pai, trabalhando
no armazém da família, até que aos 25 anos mudou-se para Colatina-ES, onde
abriu o seu próprio comércio.Conheceu ali, Nair Dalla, filha de um próspero
comerciante de café que, com a guerra de 1939, estava com problemas nos negócios,
devido a baixa dos preços do café naquela época.
Abido e Nair casaram-se na igreja
matriz de Colatina, e logo em seguida, com seu espírito aventureiro e
empreendedor, Abido vendeu o bar que tinha na cidade, e mudou-se para Vitória
com a esposa. Chegando em Vitória, comprou a
sapataria Carone e estabeleceu-se. Em Vitória nasceram suas quatro filhas:
Sônia, Isabel, Sandra e Kafa. Muito agradável, simpático, dono de uma
gargalhada única e alegre, Abido sempre enxergou além.
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Abido e Nair juntos. |
Foi candidato à prefeitura de
Vitória nas eleições municipais dos anos 50 e como político de 1ª vez quase foi
eleito.
Abido sempre gostou da vida
movimentada, tinha muitos amigos jornalistas, políticos, governadores e
comerciantes. Sempre fez questão de trabalhar junto com sua esposa Nair, numa
época onde as mulheres ficavam em casa.
Nair era uma guerreira nata.
Também descendente de imigrantes italianos e libaneses, Nair sempre esteve
junto de Abido nas alegrias e tristezas da vida que todos têm. Abido morou em
Vitória, no início de sua vinda, primeiramente no parque Moscoso, Rua Sete de
Setembro, na Praia de Santa Helena, e de lá, em janeiro de 1961, fechou seu
palacete e numa aventura sem fim, foi com sua esposa Nair e duas filhas
solteiras, Isabel e Kafa para Jacaraípe, onde havia comprado um loteamento
abandonado há muitos anos, cujo ponto de referência era a praia dos pescadores
que havia na chegada. O restante ficava em uma estrada de terra batida, que
servia de passagem para outras praias conhecidas, como Nova Almeida e Conceição
da Barra.
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Monumento referente à chegada de Abido à Jacaraípe |
Abido e Nair totalmente
desprendidos, bateram a porta do seu palacete e num último adeus, sem olhar para
trás, partiram para a maior aventura de suas vidas. Construíram juntos, um
balneário famoso, 18 anos antes de sua doença. Deu adeus à sua casa, aos amigos,
à família, tudo por um certo espaço de tempo, porque logo depois como um bom
pastor, levou todos aqueles que havia deixado para trás para perto de si.
E lá foi ele aos 50 anos, com fé,
coragem e determinação para começar mais uma vez a nova vida. Mas Abido
confiava nele, em Nair e nas 2 filhas solteiras, Isabel e Kafa, que muito o ajudaram.
Chegando no seu loteamento em Jacaraípe, limpou o lugar que estava abandonado e
Nair, com o bom gosto que lhe era peculiar, transformou os humildes aposentos em
lugares arejados, com roupas de cama limpas e cheirosas, e em seguida puseram
mãos à obra.
Primeiro, aproveitando a
dificuldade da distância que separava o povo humilde e que moravam em volta,
começaram com secos e molhados para vender. Daí como Dona Nair era perita na
cozinha e devido a descendência libanesa cozinhava a típica comida muito bem,
arrumaram umas mesas e começaram timidamente com foco total, um restaurante
que foi tomando forma e tamanho devido a delícia dos quibes que eram preparados
por ela. Em virtude da propagando feita de boca a boca, e à visão
extraordinária de Abido. Enquanto servia os quibes, e comidas árabes para os amigos e pessoas que passavam por ali
para se alimentar, ele ia negociando os seus lotes.
Foi então que começou a geração
de empregos promovida por ele. Como tinha conhecimentos gerais da vida e
muita experiência, ensinou os adolescentes da redondeza a arte da
olaria, da construção, e foi timidamente construindo aqui e ali. Fez um restaurante
melhor, levou transformadores para gerar luz e permitir a instalação de geladeiras
na cidade. Reuniu um grupo de amigos e começou a planejar o 1º clube do local,
chamado de Riviera. Este clube foi considerado nos anos 70 o melhor do Espírito
Santo. Construiu mais dois hotéis que abrigavam turistas de todas as partes do
país e um Centro Comercial, onde ele agregou Farmácia, Cabelereiro, médico,
laboratorista, supermercado, barbeiro, centros cartorários, etc. Oferecendo a todos, 5
anos de exploração comercial sem pagamento de aluguel, atraindo assim muitos comerciantes e
profissionais liberais, de outras cidades para lá.
A medida que fazia isto, Jacaraípe já ia crescendo e se tornando
um balneário importante e badalado pois era um lugar paradisíaco onde o casal
Saadi, com sua gentileza e educação, administrava o principal hotel com comida
deliciosa, passando a atrair também os moradores de Manguinhos (praia vizinha),
que pra lá se dirigiam para comer e jogar bocha.
Nesta altura o Clube Riviera já
funcionava e o hotel bombava. Todos acompanhavam Jacaraípe, que passou a ser a
bola da vez. O número de
frequentadores já era incontável e a construção de boas residências se tornou
comum.
Durante diversos verões, famílias
de Vitória e Minas Gerais habitualmente se deslocavam para lá durante todos
feriados e férias. Enfim os moradores da Estância Monazítica, (este foi o nome
dado ao loteamento por Abido Saadi). Ali também foi construída uma Igreja de
Santo Antônio onde Nair Saadi fazia um trabalho social, evangelizando as
crianças e comemorando as festas religiosas, onde os moradores assistiam e até
hoje assistem as missas. no mês de julho há distribuição de canjicas, leilões
para arrecadar fundos para a igreja. Até hoje há distribuição de cestas básicas para
as famílias carentes e presentes para as crianças no Natal.
Com o falecimento do casal, a Igreja foi doada para a comunidade. Abido
morreu fisicamente, porém foi imortalizado por esta Jacaraípe que ele criou e
que tanto amou.
O prefeito João Batista Mota
batizou a Avenida principal da cidade, que antes se chamava Garrastazu Médici, de
Avenida Abido Saadi em homenagem ao pioneiro empreendedor.
Abido morreu em 24 de novembro de
1984 e sua esposa Nair faleceu em 20 de outubro de 2012.
A 1ª Igreja do bairro era localizada na varanda do hotel onde havia missa aos domingos para os hóspedes.
Posteriormente foi construída a atual Igreja de Santo Antônio.
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Igreja de Santo Antônio reformada, em Jacaraípe, Serra/ES |
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