Entrevista de Abido Saadi para o Jornal Revista Semanal Capixaba
"Cheguei, lutei e venci"
Assim Abido Saadi iniciou sua entrevista para o Jornal Revista Semanal Capixaba, em Junho de 1977. A transcrição segue abaixo:
Sr. Abido Saadi, como foi sua infância?
Como toda criança feliz, brincando, estudando, trabalhando e ajudando meus pais.
Onde foi, se tinha outros irmãos, se foi difícil ou fácil?
Rio Grande do Sil, onde nasci com seis irmãos, todos maravilhosos. São eles: Elias, Jorge, Francisco, Saadi, Maly e Marina, dos quais tenho profunda admiração e carinho.
Quando começou sua vida profissional e como?
Muito novo, lutando com muito êxito. No comércio e na indústria comecei em João Neica, Acioly, Colatina e Vitória comprando café, farinha, milho e arroz. Vendia tudo. Da seda ao arame farpado. No comércio conheço com profundidade todos os ramos. Até classificação de café, na indústria, madeira, calcáreo e Pedreira. Bar, restaurante e Hotel. Sapataria tive três. Casa de vidros e molduras. Hoje loteamento em Jacaraípe. Britador em Carapina e Mineração em Guarapari.
Desde quando Mora em Vitória?
22 de maio de 1944, quando vim de Colatina.
Quando conheceu Nair? Conte o romance como foi.
Em setembro de 1937, festa do dia de Colatina. Era a moça mais linda da festa, o amor foi rápido. Um olhar e um sorriso, uma aliança, uma viagem de núpcias para Belo Horizonte. Em 17 de Novembro de 1940. Eu sou o homem mais feliz por ter escolhido a mulher que a 36 anos vem me amando, e eu fazendo tudo para conservar esta felicidade com toda a essência do meu amor. Nair é uma mãe maravilhosa, esposa amantíssima, só vejo nela bondade e virtude, graças a Deus.
Por que deixou Vitória e foi para Jacaraípe enfrentar uma verdadeira caatinga?
Deixei Vitória para realizar um grande ideal.
Fale sobre Jacaraípe. Quando você chegou lá? Como era? O que fazia? Quanto custava um lote de terra e quanto custa hoje?
Aqui cheguei em 17 de janeiro de 1963. Eu, Nair, um Jeep e um transformador. Estrada ruim, energia péssima e comunicação zero. Comecei a luta onde me encontrava só. Falavam em Jacaraípe, cansei de dizer a quinze anos atrás que a maior indústria para o Espírito Santo era a indústria que não precisava de chaminé e nem motor. Era a indústria do Turismo, que comecei sem ajuda de ninguém a não ser da minha esposa, de Deus e minhas filhas. Não que o Poder Público tivesse má vontade, é que não podia e não acreditava. Eu pude e acreditei. Um lote de terra custava Cr$ 40,00 (quarenta cruzeiros), hoje sou procurado para vender por Cr$ 250.000,00.
Você passou uma fase dura em Jacaraípe, não foi?
Passei lutando muito, mas acho a luta maravilhosa, porque é a única maneira da gente sentir o sabor da vitória.
Você acredita na obstinação porque foi obstinado e hoje é um homem rico? Consegue o que quer?
Sou obstinado, consigo o que quero, porque o que desejo nunca é o impossível e sim dentro da relatividade.
E política? Você já foi candidato a prefeito de Vitória?
Fui candidato a prefeito de Vitória, guardo a mais grata recordação da minha campanha e da minha derrota. Tive uma votação surpreendente. Foi uma demonstração da grande amizade que tenho da gente desta gostosa ilha. Foi a grande derrota que significou para mim a grande vitória.
Ainda gosta de política? E de políticos?
A arte de governar, negócios que interessam ao Estado ou Município, maneira de dirigir, maneira de agir, astúcia, esta eu gosto. Politicagem não. Políticos? Tenho minha admiração por muitos, principalmente daqueles que privam do meu convívio, que com orgulho eu digo e que não cito nomes porque sei que vou pecar, esquecendo alguém deste imenso Espírito Santo político.
Administrativamente qual foi o maior Governador do Espírito Santo? E o maior Prefeito da Capital?
Administrativamente o maior Governador do Espírito Santo, para mim, não teve nem maior nem menor, cada um governou dentro da sua capacidade e dentro da sua época. E o maior Prefeito, posso adiantar que todos da revolução se destacaram na sua administração, nenhum pecou.
Como você passa hoje seus dias?
Muito bem, sou um homem realizado em todo ponto de vista. Divido-me entre minha família e meus negócios.
Qual o seu pior defeito?
Sei que tenho, com sinceridade, mas os que gostam de mim não apontam, que devo fazer?
Sua maior qualidade?
Respeitar minha família e minhas amizades.
Maior emoção da vida?
Abido Saadi, quer receber Nair Dalla como sua legítima Esposa? Perguntou Frei Isaías, às 10 horas da manhã, num domingo em 17 de novembro de 1940, na Catedral de Colatina. Foi esta minha maior emoção da vida.
Acredita em Deus? Onde você se encontra com ele?
Acredito no Deus que nos criou e não no Deus que os homens querem criar. Encontro-me com ele sempre que pratico as boas ações e nas 24 horas do dia.
Você dá esmolas? Crê que esmolas resolvem o problema social do pobre?
Sim, não resolve o problema social. Dou por causa da humildade de quem pede.
Você é um homem muito emotivo. Já lhe vi chorar quando Kafa se casou. Você já chorou muitas vezes ou é do slogam "Homem não chora"?
Sou, chorei no casamento de Kafa Sandra, Isabel e Sônia. Foi o choro e as lágrimas da felicidade, cujas lágrimas serviram-me de tranquilizantes e alegria pelo complemento das suas vidas. Já chorei várias vezes, mas os momentos de alegria são maiores.
Qual o maior bem do mundo?
A paz de espírito.
O que é o dinheiro para você?
É o meu escravo. Jamais serei seu. Faz o que eu quero no bom sentido e nas boas ações.
E finalmente, como você se analisa?
Um homem normal, procurando sempre acertar o máximo e errar o mínimo. Os homens valem pelo seu caráter, pelas suas ações, pelos seus grandes ideais e jamais pelo seu físico, pela prepotência ou pela sua anormalidade.
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Abido Saadi, sentado na varanda de sua casa tomando um chimarrão. |
Um grande homem! Parabéns à família Saadi!
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